Para pintar a paisagem
Do grande sertão paulista,
Pintemos primeiro a imagem
De uma cabocla bonita.
Os bois pastando sem susto
Por entre o capim gordura,
Um rio deslizando a custo
Num leito de pedra escura.
A passarada a cantar
E o bom café a secar
Num recanto de terreiro;
Um roceiro e o sol morrendo,
Uma saudade doendo,
Uma viola e um vaqueiro.
Como é dorido, na tristonha ausência,
Sentir-se a boca sem o beijo quente,
Gravar-se na alma, com cruel demência,
A negra treva que deixou a ausente.
Porque desejo assim, pobre inocência,
Ter o jardim estranho do presente
Se nunca a graça desta complacência
Possa ser prêmio de um amor descrente?
E os versos frios em torrentes vêm
Para, lembrando que já tive alguém,
Beijar os mimos do perdido ardor.
Versos ardentes meu viver recusa;
Tenho poesia, mas não tenho musa,
Tenho desejos, mas não tenho amor.