Quero viver assim... em minha sombra
Hão de encontrar descanso os corações!
Hei de, aos desesperados, dar alfombra
Chorando as suas dores e emoções.
Na aridez da vida que me cerca
Serei uma esperança e uma alegria
E o caminheiro, que de mim se acerca,
Há de voltar para abraçar-me um dia.
Os homens todos no prazer sem nome
Bendirão as sementes que eu lhes der
Ou colherem os frutos para a fome;
E quando me ferir um mal qualquer,
Como a árvore que morta dá calor
Quero morrer assim... cedendo amor!
Meu coração era qual selva bela
Onde um amor não poderia entrar;
Somente a glória, que das almas zela,
Nos seus recantos deveria estar...
Adolescente eu era e em certo dia
Um anjo belo descobri que amava,
Em pouco tempo a minha selva ardia
E pelas chamas um amor entrava...
Mas esse fogo destruiu-me tudo,
Queimando as ânsias do meu ser em flor
Dando, por prêmio, um infeliz relento;
E eu contemplei, com o meu peito mudo,
As cinzas quentes do infeliz amor
Velozes indo, no soprar do vento.
És linda, minha amiga, até o luar
É tão escuro ante o fulgor teu! Deus
Inspirou em ti a divina arte! O mar
É tão mesquinho ante os olhares teus!
Linda amiga, não sabes que desejo
Que o nosso encontro se tornasse eterno,
Pois dir-me-ias: - “Teu será meu beijo!
Serei calor para o futuro inverno!”
Mas não, não posso tanto desejar,
Que dentro em pouco te vou eu deixar,
Talvez jamais, jamais nos encontraremos...
Será? Talvez... mas nosso amor, querida,
Nascido e morto na mesma despedida
Há de deixar um pouco de nós mesmos!
Ouve meu canto amigo que te embala,
Que tange as cordas flébeis das bonanças...
De quanto amor, de quanto ardor te fala,
Que luzes que te dá! E as esperanças...
É chuva de rubi, safira, opala,
Caminho reto nas desesperanças...
Toda beleza viva dele exala,
Em brisas leves e quais ondas mansas.
Se te sentires só, perdida e errante,
Não chores, meu amor, um só instante
Os teus tormentos nem os teus fracassos.
Ouve meu canto amigo e vai seguindo
Os ecos deste canto, eterno e lindo,
Tal fosse a estrela-guia dos teus passos!