ONDE NASCI



Onde nasci era pequeno o berço,
pequena a vida, pequenina a terra;
tudo cabia na retina estreita
do olhar estreito que guardou, sereno,
a luz grandiosa de um lugar pequeno.

Algumas casas velhas e encardidas
que a chuva não limpava, nem o vento;
alguns garotos sujos e indolentes
brincando pelas ruas desprezadas
ou perseguindo as aves a pedradas.

Mulheres simples, de trabalho rude,
homens cansados de viver lutando,
serenos dias e noitadas calmas,
extensos campos, pequeninos rios,
almas enormes, corações vazios...

Onde nasci, tal era a imagem tida
aos poucos olhos que por lá passassem
e aos poucos olhos que morriam lá;
tudo pequeno, tudo estranho e incerto,
um berço agreste sob um céu aberto...

Mas nessa terra, amiga e pequenina,
em que cheguei ao mundo colossal,
havia humanidade e benquerença,
sonhos e crenças, ilusões e afetos,
e paz divina sob os pobres tetos.

Ficou comigo, dessa terra minha,
a poesia que em seu seio havia
e todo o anseio de felicidade;
e crente sou e, sonhador, persisto,
filho da vida, que me fez crer nisto.

O campo aberto, a liberdade, a calma,
deixaram no meu ser tal sentimento
que dentro do meu peito já não cabe
a poderosa força da saudade
de uma pequena terra sem vaidade...