ONDE EU QUERO MINHA ESTÁTUA



Se algum dia eu for ilustre
e quiserem me erigir
um monumento qualquer,
defronte à velha estação
da minha Santa Gertrudes
eu desejo a minha estátua!

Ali onde os trens se encontram
e tantas vidas se tocam...

Quero ali onde, tão bem,
vejo a esperança que vem
e a ilusão que se vai;
quero ali onde, sorrindo,
a vez primeira encontrei
o meu amor breve e lindo...

Ali eu quero ficar!
Talvez que o pássaro errante
pouse em mim p’ra descansar
de uma fadiga constante.
a minha sombra no chão,
como um relógio de sol,
fará um círculo imenso,
mas sem sair dessa terra
como em pessoa saí...

À noite algum par romântico
virá sentar-se a meus pés
e seu amor velarei;
ninguém de mim ouvirá
as juras que escutarei.

Ali eu quero ficar,
como um estranho qualquer

sob o sol da minha terra,
sob a chuva que a umedece
sob o céu de azul-turquesa,
sob as nuvens que se vão,
sob as aves que não vão,
sob as estrelas formosas...


A meus pés terei as rosas,
os namorados eternos,
o solo nobre e querido,
o andante desconhecido
e o pedestal do meu trono.

Ali eu quero ficar!
Vendo a cidade crescer,
vendo as pessoas passarem,
vendo a terra florescer,
sobrevivendo a meus ossos,
que vão desaparecer...

E quando todos me olharem
sentirão minha presença
e evocarão o passado,
olhando para o futuro
com desejos imortais;
e lerão no pedestal
estas palavras finais:

“Eis o cantor desta terra,
“o filho que não se esquece!
“Foi poeta, ó caminheiro,
“faça em versos uma prece!”