Uma rosa na garrafa
para enfeitar velha mesa
onde trabalha a menina
que tem ares de princesa
e que sonha ser a flor
deixada numa garrafa,
porque a flor jamais se cansa,
não sofre e não tem estafa,
mas queria entrar num vaso
e não na garrafa triste
que, por ser tão pobrezinha,
ninguém percebe que existe;
e não querendo a mesa
desejaria um castelo
para ser a flor de um vaso,
e vaso de algo belo,
distante das garrafinhas
e longe das mesas feias,
onde apenas seu encanto
brilhasse dentre as ameias;
e ser colhida algum dia
pela lança aventureira
de algum cavaleiro andante
em começo de carreira
e com ele galopar
através de lindas terras,
ora cruzando nos campos,
ora vivendo nas serras
e ser, por fim, ofertada
em nome de um grande amor
a alguém que jamais deixasse
de lhe dar grande valor;
e viesse pelos séculos,
imortal e inatingível,
enfeitando muitos vasos,
num valor iniludível,
até acabar seus dias
na garrafa sobre a mesa,
onde trabalha a menina
que tem ares de princesa...