POST-MORTEM À ATRIZ MARILYN MONROE


(falecida em 05/08/1962)

Deusa loura, morreste...
Nós nem cremos que de fato morreste,
que fugiste ao mundo dito belo
e que persiste depois que nós morremos.

Mas morreste...
Agora não se escuta a tua voz
nos cantos deste mundo,
onde passaste tão linda
buscando a felicidade,
sem nunca tê-la encontrado...

E tu foste a poesia
fadada a ser mulher...
Bailavam versos em ti,
nos teus olhos, nos teus sonhos
quase infantis,
no teu corpo escultural,
no teu rosto lindo e triste,
na tua essência infeliz...

Foste a poesia mais triste,
pois poesias são flores:
umas alegram em vida,
outras consolam na morte...

Nós nunca nos conhecemos,
mas a poesia nos une
e sempre nos falaremos...

Eis porque te trago versos,
que quis fazer bem floridos
como alvoradas sublimes,
com o ouro dos teus cabelos,
mas tudo em vão...

Apenas brotaram do esforço
estes versos quase murchos,
estes mimos quase secos
e que ficaram assim
respeitando o sofrimento
que o mundo te conferiu...

Agora me entenderás:
falávamos duas línguas,
portanto não me ouvirias.

Hoje, de fato, és estrela!
Estás com Deus, isto é tudo...
Ele é o pai que não tiveste,
a Vida que procuraste,
a Felicidade usurpada,
o Sonho que te roubaram,
o Mundo que te faltou,
o Amor e a Compreensão
e, mais que tudo, é Perdão...

Descansa, agora, descansa,
esquece o mundo de fel...
desempenhaste na dor
o derradeiro papel...