NOVA ALVORADA

Surge um novo dia...

Da janela de meu quarto
vejo o sol resplandecendo,
as árvores se movendo
ao doce toque da brisa
que desliza...

Nos beirais dos prédios velhos,
erguidos por longos anos,
os passarinhos pipilam
tecendo ninhos profanos.

Ouço o barulho dos carros
que passam celeremente
e o som distante de malhos
construindo para os homens
novas casas reluzentes.

Tudo me parece o mesmo
que desponta todo dia...

Então por que me domina
esta atroz melancolia
que, aos poucos, me assassina?
Por que me sinto mais gasto,
mais cansado e inseguro,
mais velho e sem mais futuro?

Os passarinhos talvez
nem sejam os que vi ontem;
os carros, por sua vez,
poderão não ser os mesmos
e tudo talvez não saia
desse inconstante talvez.

Entretanto eles parecem
os mesmos de todo dia,
fazendo sentir que em tudo
apenas eu vou mudando,
mais cabisbaixo e sisudo,
mais acanhado e passando.

Gostaria imensamente
de me encontrar por momentos
com minha própria pessoa
que vi desfazer-se aos ventos
desta existência presente.

Muito, então, tenho certeza,
aprenderia comigo...
Ensinar-me-ia a ser forte,
a ser alegre, a ser bom,
a cantar no antigo tom
que já cantei na pureza
de outro tempo ou outro abrigo.

Enquanto isso olho as coisas
que atravessam meus caminhos,
por certo ainda aprendendo
com o sol e os passarinhos...