DESCRENÇA
Na madrugada do sono profanado
existe sangue
de um irmão tombado...
E a fome campeia em profusão
na mesma porta
onde existia pão.
Até mesmo a porta
fechada e torta
sustenta-se em parede quase ao chão...
Há gritos nas esquinas
e homens que os provocam
e moças concubinas.
Onde ficaram as lembranças?
Onde se escondem
as tão gentis crianças?
O mundo é eterna noite,
apesar do sol
que queima como açoite.
O menino faz pacto de morte
com drogas e com armas,
sem ver o sul e sem buscar o norte.
Nos olhos de eterno espanto
já não brilha a luz
e nem sequer há pranto...
E o barco do globo segue impuro,
destroçado e errante,
em busca do futuro...
Pseudônimo: "Cancioneiro"