Foste rainha por um breve instante,
dona de homens, de campos, de esperanças,
embalada na ilusão de uma criança
que ganha um brinquedo novo e desejado.
Eras bem uma criança assim...
Ante teus olhos azuis, bela bretã,
desfilavam as glórias da Inglaterra,
a Velha Albion, que palpitava
debruçada sobre a Mancha e sobre o mundo.
Um trono a teus pés, vassalos, mimos,
um rei por esposo, a riqueza, tudo, enfim,
onde tão pouco havia...
A juventude estuava em ti
como a fonte indomável que desliza
entre as pedras e liquens dos caminhos.
Como a fonte, que procura o mar,
também sonhavas alto, pobre irmã,
e aceitasse a coroa efêmera
e reinaste sobre os homens louros
e tiveste, prostrados a teus pés,
soldados, damas, trovadores, todos
acalentando o teu sonho inútil.
Infeliz rainha, minha triste irmã,
tudo morreu em ti... o cadafalso
fechou teus olhos e as portas frágeis
das ilusões e crenças embaladas;
e ninguém sabe as mágoas que levaste
quando deixaste de ser Ana Bolena.
Agora aprendeste que nada neste mundo
tem razão de ser. Agora sim
é que estás vivendo em Reino certo!
E a coroa de luz que conquistares
nem reis, nem mendigos, nem soldados,
nenhuma força humana e passageira,
ninguém te a roubará, minha rainha!