CANTO DA RUA


Somos a rua
porque pela rua passeamos
nossas vidas.


São tropeços que deixamos
nas descidas,
os vôos das subidas
e os encontros ao luar.


Também na rua
deixamos nosso sangue
na luta do trabalho,
a queda exangue,
a discriminação,
a fome que circula,
o desespero vão.


Quanta solidão
nos cacos pelo chão
das manhãs, das tardes,
das noites de ilusão...


Somos a rua,
a poesia incerta dessa rua,
mas também a luz do sol
que a vai banhando
apesar de feia,
apesar de nua,
tentando ressuscitar,
na derradeira aurora,
as cores do arrebol...