REI DESTRONADO


Quando nasci
deram-me um nome esquisito:
Ideney...
Mas eu gostei,
pois era um nome distinto
porque rimava com rei.

E eu pensei,
ao longo do viver,
ser rei de muitas coisas:
fui rei dentro do lar,
dos meus brinquedos,
do distante be-a-bá...

Fui rei de um pomar
e de aventuras,
de imaginárias montanhas
intumescidas de prata
-(não sei porque, mas a prata
era mais bela que o ouro)
e eu fui o rei da prata.

Aos meus pés outros reis,
de paus, de ouro, de copas,
de espada
depuseram suas armas...
E eu cavalguei
mil corcéis,
porque fui rei!

Depois cresci
e segui rei:
rei do ginásio perdido,
daquela estudante triste,
de olhos diferentes,
mas que sendo uma plebéia
jamais poderia ser
a rainha de um castelo
feito de sonhos tão belos...

Tive amigos,
leais e poucos,
talvez os pares do reino
necessários para um rei,
porque não cai muito bem
um monarca ter amigos
em quem não possa fiar...

Mas aquela moreninha
teria que ser rainha,
ao menos deveria ser...
Por ela abdicaria
de meu trono de magia;
por ela destronaria
qualquer rei de qualquer mundo
e não seria vencido...

Hoje sou rei de ilusões...
Hoje sou rei destronado
dos meus sonhos
sem canções!