Sou o planeta Terra
acalentando seus vulcões...
Ao redor desses vulcões
nascem vilarejos, plantações,
desejos de progresso
e de esperas no futuro.
Dentro da Terra, todavia,
há bulício, agito, inconformismo,
vulcões prestes a estrondar,
mas que nem sempre explodem,
represando cada sismo.
Dentro de mim também se agita
o vulcão da minha alma
procurando explicações
para as mágoas refreadas
e as dores estagnadas
que iniciam sempre em S:
(saudade, solidão, sujeira,
sujeição, sentimentos mortos).
Como o planeta Terra
eu contenho os meus vulcões
pra não ferir quem me cerca
e não forçar explosões
que me ensinaram conter...
Então como a enorme montanha
que envolve um vulcão extinto,
mostrando flores onde foi cratera,
também floresço em versos
e os distribuo a todos
que desejarem tê-los.
Muitas vezes, enquanto escrevo,
rolam-me lágrimas dos olhos:
fortes, candentes, amargas,
que descem queimando a face
como lavas do vulcão
que jamais vai explodir,
pois as flores que cultivo
não merecem sucumbir.